A presença de trabalhadoras e trabalhadores negros e pardos nas empresas de negócio exterior vem aumentando ao longo da última dez, mas a desigualdade racial segue gritante no setor. É o que aponta um estudo realizado pela Secretaria de Transacção Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços (Mdic), cujos resultados foram apresentados nesta quinta-feira (7).
Para volver esse quadro, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e a ministra a Paridade Racial, Anielle Franco, lançaram um programa federalista para estimular a contratação de mais trabalhadores negros e negras pelas empresas importadoras e exportadoras.
Batizado de Raízes Comex, o programa buscará fortalecer a visibilidade internacional dos produtos e serviços brasileiros oferecidos por empreendedores negros, ampliando o alcance destes negócios em mercados globais. A proposta federalista é, com o esteio de entidades parceiras, uma vez que a Confederação Vernáculo do Transacção de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mobilizar o setor empresarial em prol de ações que promovam inconstância racial no negócio exterior e aumentar a participação de empreendedores e profissionais negros no negócio exterior por meio de incentivos, capacitação técnica, mentoria e redes de esteio.
Estudo
A pesquisa Transacção Exterior e Representatividade Racial no Mercado de Trabalho Brasílio revela que o percentual de negros e negras contratados por firmas exportadores subiu de 34% para 41% entre 2011 e 2021. Já nas importadoras, aumentou de quase 40% para aproximadamente 48% no mesmo período.
Os percentuais são ainda menores quando analisados unicamente os cargos de comando destas empresas. No caso das empresas exportadoras, em 2021, os trabalhadores negros ocupavam muro de 20% das vagas de direção e gerência. Nas importadoras, não mais que 34% destes postos-chave. A título de verificação, em empresas que não atuam no negócio exterior, a proporção de trabalhadores negros nos cargos de direção é 23,6% e 34,5% nos cargos de gerência.
Segundo o coordenador-geral de estudos de negócio exterior do Mdic, Diego de Castro, nas empresas exportadoras e importadoras, a intervalo salarial entre o grupo de trabalhadores que ganha mais (amarelos e brancos) e o que ganha menos (pretos e pardos) é maior do que a constatada nas firmas que não participam do negócio exterior.
Em média, um trabalhador preto recebe o equivalente a 61% do que é pago a um empregado branco que exerça as mesmas funções. As mulheres recebem salários médios ainda menores quando comparados aos homens de seus mesmos grupos raciais. Todavia, mesmo que sendo alvos da discriminação de gênero, mulheres brancas que ocupam os cargos de gerentes e diretores tendem a receber, em média, mais que seus pares negros – incluindo, homens.
“Aparentemente, o fator racial é mais potente na preceito desta diferença salarial, já que as mulheres brancas nestes cargos recebem salários mais altos inclusive que homens negros”, acrescentou Castro, explicando que o estudo, inédito no Brasil, pode servir para orientar políticas públicas para promover a maior representatividade racial no negócio exterior.
A secretária de Transacção Exterior do Mdic, Tatiana Prazeres, também destacou a prestígio da pesquisa. “As empresas que participam do negócio exterior são mais inovadoras, resilientes, produtivas, remuneram melhor seus funcionários e contratam mão de obra mais qualificada”, comentou a secretária, destacando que, conforme indicado no estado, empresas voltadas ao negócio exterior possuem mais empregados com ensino superior completo, de todas as raças, do que as que não participam do segmento.
“Fazer com que a população negra participe desta atividade é um tanto que nos interessa. E fazer com que as empresas reconheçam e valorizem a inconstância em seus quadros também importa inclusive para o posicionamento dos produtos e serviços brasileiros no exterior”, arrematou Tatiana Prazeres.
Inclusão
Ainda oriente mês, o Mdic vai lançar, em parceria com a ApexBrasil, o edital do 1º Prêmio de Inclusão e Pluralidade Racial no Transacção Exterior, direcionado a empresas atuantes no negócio exterior, ou com potencial para tanto, que tenham pessoas negras na presidência, na elaboração societária ou em cargos de direção. Vão ser selecionadas 27 empresas, em duas categorias, que receberão esteio público para participar de eventos de promoção mercantil internacional ou ofertar seus produtos e serviços em outros mercados.
Para a ministra Anielle Franco, estudo uma vez que o realizado pelo Mdic e divulgado hoje “comprovam a prestígio e a eficiência de pensarmos políticas públicas que fiquem, que não sejam políticas públicas unicamente para o governo, mas de Estado”.
Já Alckmin interpretou os resultados da pesquisa uma vez que uma “oportunidade”. “Feito o diagnóstico, qual é o remédio? O que vamos fazer para impulsionar oportunidades e gerar a maior presença no negócio exterior [brasileiro]. A primeira iniciativa será o prêmio. A segunda medida é a capacitação dos jovens, para que eles possam participar mais”, comentou o vice-presidente, referindo-se à oferta de cursos de facilitar e de assistente em negócio exterior.
Os cursos serão ofertados na modalidade online e presencial, com o esteio de vários parceiros. O de facilitar, online, terá 90 horas de duração. Serão 200 vagas semestrais exclusivas para jovens negros com idade entre 15 e 29 anos. O de assistente será oferecido pelo Serviço Vernáculo de Aprendizagem Mercantil (Senac) e terá 160 horas de duração. No primeiro momento, serão disponibilizadas 200 vagas semestrais a alunos negros, sendo 20 vagas por cidade nas principais zonas portuárias e aeroportuárias: Salvador (BA), Fortaleza (CE), Vitória (ES), Paranaguá (PR), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande (RS), Itajaí e São Francisco do Sul (SC) e Santos (SP).