Filho de paciente em surto morto após fazer enfermeira refém não se conforma: ‘Não consigo aceitar’
Família acredita que homem sofreu um surto de hipoglicemia. Ele tratava uma pneumonia e não tinha histórico de surto psicótico.
Luiz Henrique (à esquerda), Luiz Cláudio, paciente morto em UTI (centro), e Gabriela Dias (à direita), em Goiás — Foto: Luiz Henrique Dias/Arquivo pessoal
O filho do paciente em surto morto após fazer uma enfermeira de refém disse em vídeo que não se conforma com o que houve com o pai. Luiz Cláudio Dias foi morto com um tiro de um policial militar após ameaçar a mulher com um caco de vidro.
“Não consigo aceitar a cascata de erros que houve. Ele era um paciente que era para estar monitorizado”, disse Luiz Henrique Dias, filho do paciente, que é enfermeiro e cirurgião-dentista.
Luiz Claudio Dias foi morto no Hospital Municipal de Morrinhos, no sul de Goiás, no dia 18 de janeiro. Ele tinha 58 anos e estava internado para tratar uma pneumonia, de acordo com o filho.
A Polícia Militar informou em nota (leia texto completo abaixo) que Luiz continuou com atitude agressiva, mesmo durante a abordagem dos agentes. Diante disso “foi necessário a realização de um disparo de arma de fogo para neutralizar a agressão e resguardar a integridade física da refém”, disse o texto. Foi instalado um procedimento administrativo para apurar os fatos, declarou a PM.
Em nota, a Prefeitura de Morrinhos disse que a polícia foi acionada “diante da gravidade da situação e do iminente risco à vida da profissional”. O texto diz ainda que a administração municipal irá fornecer apoio psicológico e social aos familiares.
Luiz Henrique acredita que a equipe médica poderia ter agido de outra forma ao lidar com o pai em surto.
“Meu pai nunca teve um surto psicótico. E, se ele estava em surto, a gente não negocia com paciente em surto. A gente age, não colocando a vida dele em risco”, declarou.
A prefeitura disse ainda que a UTI é administrada por uma empresa terceirizada. O DE não conseguiu contato com a empresa até a última atualização desta reportagem.
Como enfermeiro, Luiz Henrique explicou que o surto de hipoglicemia acontece quando um paciente diabético recebe mais insulina do que o necessário e falta glicose em seu sangue.
“Quando falta glicose, falta oxigenação no cérebro, e os neurônios não fazem sinapse. Com isso, a pessoa não consegue raciocinar direito”, explicou Luiz.
Ele disse ainda que o quadro pode levar ao coma.
Luiz Cláudio Dias era aposentado por invalidez por conta de suas doenças crônicas. Ele era diabético, hipertenso, tinha insuficiência renal e fazia hemodiálise há 24 anos. Luiz também tinha deficiência visual e mancava por conta de uma lesão num tendão do pé.
O filho contou que Luiz gostava de pescar, que já foi tratorista e que não tinha estudo formal. “Meu pai era um homem simples, humilde, do interior de Goiás. Analfabeto de estudo, mas com sabedoria que faculdade nenhuma pode ensinar”, contou Luiz Henrique.
Luiz Cláudio era viúvo e deixou os filhos Luiz Henrique Dias e Gabriela Dias Melo.
Segundo a PM, Luiz Claudio estava em um surto quando fez a enfermeira de refém e a ameaçou com um pedaço de vidro quebrado. O vídeo mostra o momento em que, ameaçada com um pedaço de vidro, a profissional da saúde consegue afastar o braço do paciente, que foi baleado logo depois, e escapar.
De acordo com informações da PM, o tiro seria para imobilizar o paciente, que ameaçava a enfermeira, mas ele se moveu durante a ação e o disparo acabou perfurando o abdômen. Após ser baleado, o paciente chegou a receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.