Caixas para velar celulares e perda de pontos em avaliações são algumas das estratégias usadas para que estudantes não se distraiam nas salas de lição com os celulares pela Escola Estadual de Ensino Profissional Jaime Alencar de Oliveira, em Fortaleza. A escola recebeu nesta quinta-feira (31) a visitante dos ministros da Ensino que participaram dos encontros do G20 nesta semana.
Apesar de alguns estados e municípios já restringirem o uso dos aparelhos nas escolas, o Brasil busca uma norma nacional para regular o uso de smartphones e outros aparelhos eletrônicos.
Para a estudante Débora de Paula, do 1º ano do ensino médio da escola, a restrição é bem-vinda. “O celular para fins educativos pode ser muito muito utilizado, mas a gente tem que ter certos cuidados para que a gente não distorça um pouco o uso dele. Até porque a gente tem que estar sisudo ao que o professor está falando. A gente quer prestar atenção ao teor que está sendo oferecido, que é aquilo que a gente vai usar para a nossa vida”.
Débora cursa na escola produção audiovisual. Ela conta que no curso a estratégia é tirar nota de quem usa o aparelho indevidamente. “Tem essa outra nota, que é a nota de perfil, que a gente começa com 10 pontos e, dependendo de alguns pontos a gente vai perdendo. Um deles é o uso indevido do celular. Logo cá a gente tem esse incentivo de não usar o celular durante a sala de lição, a não ser quando o professor está pedindo”.
Isso ajuda a própria estudante a controlar o uso também fora da escola. Na lar dela, ela instituiu até para os pais a regra de usar o celular só até as 22h.
A estudante Lua Clara também está no 1º ano de produção audiovisual e, da mesma forma, tenta controlar o uso do aparelho. “Justamente para não sugar a sua vigor. Porque às vezes uma jovem fala ‘nossa, eu estou tão cansado, com dor de cabeça’. Porque foi dormir às 2h da manhã e estava jogando um jogo. Logo, é controlar, mas se ajustar também”, defende.
Já no curso profissional de eletromecânica, a estratégia é velar os aparelhos dos estudantes, conta Allan Sousa, estudante do 2º ano do ensino médio.
“Eu uso o celular quando o professor permite, inclusive na minha sala de lição”, diz. “O nosso diretor de turma, ele conversou com os pais e eles aceitaram fazer uma caixinha onde a gente coloca os nossos celulares. E a gente só pega se o professor permitir, quando a gente for usar para poder fazer atividade mesmo”.
Ele também apoia a restrição do aparelho. “O celular é um dos principais motivos para distrair o aluno em sala de lição. Imagina, o aluno está tendo uma lição sobre alguma coisa, aí aparece uma notificação do celular que, às vezes, pode ser mais interessante do que a lição que ele está tendo em si”, diz o estudante.
O diretor da escola, Kamillo Silva, diz que a instituição procura um estabilidade. “A teoria é usar as tecnologias com sabedoria”, diz. “Se há uma competição muito grande com a questão relacionada à atenção, que o celular seja minguado. Se a gente pode utilizar uma vez que recurso para a solução de problemas, uma vez que é o caso da ensino profissional e do ensino médio, que ele seja mais liberado. Logo, talvez o duelo seja encontrar esse estabilidade. Para nós, para o ensino híbrido, é mais um espaço, é mais uma instrumento para a solução do problema, para a aprendizagem, para a devolutiva das atividades também”.
Tecnologia no mundo
O uso da tecnologia nas escolas é tema de debate nos encontros internacionais que ocorrem essa semana em Fortaleza. Foi discutido tanto nos encontros de educação do G20, que terminaram nessa quarta-feira (30), quanto na Reunião Global de Ensino (GEM, na {sigla} em inglês), organizada pela Organização das Nações Unidas para a Ensino, a Ciência e a Cultura (Unesco), que começou nesta quinta-feira (31).
O relatório de Monitoramento Global da Ensino (GEM) 2024, aponta que o uso da tecnologia é muito desigual entre os países. Em países de subida renda, oito em cada 10 adultos conseguem enviar um e-mail com um dentro, mas em países de renda média, uma vez que é o caso do Brasil, somente 3 em cada 10 adultos são capazes de fazer isso.
Segundo o diretor do relatório GEM, Manos Antoninis, uma das mensagens mais impactantes do relatório é a queda na aprendizagem dos estudantes em todo o mundo. De convénio com ele, essa queda começou a ser observada em 2010, antes mesmo da pandemia. Entre as razões para que isso ocorra, sobretudo em países de renda subida e média, uma vez que o Brasil, está o uso de tecnologia nas escolas.
“É irônico porque todos esses que vendem a tecnologia, prometem que a tecnologia melhora a aprendizagem. A veras é que quando há um melhoramento é só para muito poucos. Para a maioria dos alunos há um efeito negativo”, disse.
Regras nacionais
Nesta quarta-feira (30), a Percentagem de Ensino da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 104/2015, que proíbe o uso de celular e de outros aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de lição de escolas públicas e particulares, inclusive no recreio e nos intervalos entre as aulas.O projeto segue para a Percentagem de Constituição e Justiça.
Pelo PL, o celular pode ser usado somente para atividades pedagógicas, ou seja, orientadas pelos professores, nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano e no ensino médio. Já nos anos anteriores, na ensino infantil e nos anos iniciais do fundamental, do 1º ao 5º ano, o uso fica proibido. O texto, no entanto, permite ainda o uso do aparelho para fins de acessibilidade, inclusão e condições médicas.
* A repórter viajou a invitação do Ministério da Ensino