“Nem quando morreu, ela parou”. A frase é a explicação de Fernanda Chaves, ex-assessora da vereadora Marielle Franco (Psol), sobre uma vez que era a presença da parlamentar por onde ela passava, durante o julgamento dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, que começou na manhã desta quarta-feira (30) no 4º Tribunal do Júri do Rio, no núcleo da cidade.
Fernanda, sobrevivente no ataque, que resultou nos assassinatos de Marielle e do motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, contou que se os que promoveram o ataque pensaram que a morte da parlamentar acabaria com a resguardo das suas bandeiras, se enganaram”.
“É difícil ver nessas manifestações. Quando a gente tem que manifestar ‘Marielle Vive’ eu sinto um negócio atravessado e quase não consigo manifestar, porque ela não está cá, não posso abraçá-la, não consigo sentir o cheiro dela. É dolorido demais, mas, ao mesmo tempo, o que a Marielle significa. O que ela é de origem, está inteiro. Essas pessoas que pensaram e desejaram interromper Marielle, elas não conseguiram interromper. Elas tiraram Marielle da gente, mas não conseguiram interromper o que significa Marielle. Vão passar o resto das vidas delas infelizes tendo que ouvir Marielle Vive, tendo que se deparar com leis pensadas pelo procuração dela e por ela, tendo que ver a rostro dela em muros pelo mundo afora, placas de rua. Não interromperam Marielle”, afirmou respondendo a uma representante da assistência de delação.
A jornalista Fernanda Chaves, foi a primeira testemunha a depor no julgamento. A juíza Lucia Glioche, titular do 4º Tribunal do Júri do Rio, disse logo de início que diante da qualidade de vítima não pediria a ela que fizesse o compromisso de falar a verdade e a orientou: “O que não souber, diga que não sabe; o que não quiser responder, diga que não quer responder; o que não se lembrar, diga que não se lembra”, pontuou a juíza.
Além do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), puderam fazer perguntas à testemunha, representantes de assistentes de delação e da resguardo dos réus.
A primeira pergunta que respondeu foi sobre o uma vez que passou o dia dos assassinatos. Fernanda lembrou que aquele 14 de março de 2018 começou uma vez que um dia normal de trabalho. Por volta das 18h a vereadora saiu para o compromisso na Moradia das Pretas, na Lapa, núcleo do Rio, onde participaria de uma roda de conversa com mulheres. Fernanda foi se encontrar mais tarde com Marielle lá e saiu no carruagem dirigido por Anderson com a vereadora, que tinha urgência de chegar em mansão. A jornalista contou que costumava pegar carona porque eram vizinhas no bairro da Tijuca, zona setentrião da cidade.
Dissemelhante do que costumava ocorrer, Marielle preferiu permanecer no banco de trás porque estava cansada. No caminho conversavam e ficaram lendo mensagens no celular. Marielle pediu para ouvir o jogo do Flamengo. Quando passavam pelo bairro do Estácio, na zona setentrião, Fernanda revelou que ouviram uma rajada de tiros, sem entender o que estava ocorrendo, em um ato de revérbero se curvou detrás do banco onde estava o motorista e de lá pôde ver quando ele abaixou o braço recta e reclamou de dor. Ao lado dela, Marielle não esboçava reação. “Marielle estava imóvel, senti o braço dela por cima de mim, o peso do corpo dela. Eu estava sem cinto, por isso consegui me descer detrás do banco”, relatou.
“Eu acreditava que tinha completado de passar pelo meio de um troada, até porque infelizmente isso é o Rio de Janeiro, portanto, na minha cabeça precisava trespassar do carruagem para pedir ajuda”, completou, acrescentando que em seguida, algumas pessoas que estavam na passeio em frente começaram a se aproximar. Ainda confusa com a situação pediu ajuda para invocar uma ambulância ao sítio.
A testemunha contou que teve a sua vida transformada pelos assassinatos e até hoje passados quase 7 anos do ataque não conseguiu voltar ao gabinete onde Marielle exercia o procuração. Logo em seguida o atentado recebeu o base da Anistia Internacional e se mudou para Madri, na Espanha, na quesito de proteção de testemunha. Foi junto com o marido Marcelo e a filha de seis anos na era Rosa, afilhada de Marielle. Todos tiveram suas atividades alteradas. O marido precisou fechar o escritório e a filha deixou a escola. Na volta ao Brasil foi morar fora do Rio e ainda com dificuldade de encontrar um tarefa na superfície que atua uma vez que assessora política. Entrou em um programa de proteção dos direitos humanos. “Março de 2018 nunca saiu de dentro da gente”,disse.
Porquê amiga de Marielle, que também era madrinha de seu consórcio, Fernanda sente a tristeza de não ter podido estar no velório e no enterro. “Foi muito doloroso para mim. Eu fui obrigada a não participar dos ritos da Marielle. Marielle era madrinha da minha filha, não pude ir para o velório, não pude ir para o enterro, eu fui impedida. As pessoas acham glamuroso estar fora do Brasil, mas eu sequer conseguia desfazer as minhas malas” revelou.
A jornalista comentou que o procuração de Marielle era muito voltado às questões de direitos humanos e que a parlamentar se preocupava com a situação de moradia, além da questão de gênero, que era uma paixão dela. “Para falar em moradia tem que falar da questão das mulheres, que em universal estão adiante das famílias”, observou.
“No parlamento ela também tinha esse envolvimento de reunir acolhendo todas as demandas ainda que não fossem as que levaram ela aos 46 milénio votos [recebidos por Marielle na sua eleição]”
Fernanda Chaves respondeu ainda ao MP uma vez que era a Marielle do conjunto de favelas da Maré. “Tinha orgulho de manifestar que o pai era um dos primeiros moradores da maré e que tinha memória das palafitas [antes da urbanização as casas dessa comunidade eram construídas sobre palafitas]”.
“É difícil descrever a Marielle, porque ela era muita coisa. Marielle tinha muito paixão. Marielle queria viver muito e tudo. Queria experenciar tudo que fosse verosímil. Eu falei para ela em vida nas discussões de uma vez que vai ser, uma vez que vai ser a eleição. Na era, ventilava-se que deveria ser senadora. Eu pude manifestar para ela, porque acredito nisso, que ela ia ser o que quisesse. O dia que ela cismasse ser presidenta, seria desde que ela quisesse. Ela foi sempre para onde queria. Sempre conseguiu realizar o que queria mesmo que o mundo tentasse atrapalhar, uma vez que atrapalha a trajetória de pessoas negras, de mulheres, de mulheres faveladas e periféricas, LGBTQI”, comentou.
No término do prova, a juíza questionou se qualquer jurado queria fazer pergunta, mas ninguém quis. Porquê também o representante da resguardo de Élcio Queiroz.