Aluno aprovado por cotas é barrado em banca da UFG por não ser considerado pardo: ‘houve a alegação de que eu tenho cabelo liso e pele clara’
Richard entrou com recurso para questionar a decisão, que foi indeferido pela banca. Jovem se identifica como filho de mãe negra e pai branco.
Aluno fala sobre ter sido barrado em banca da UFG por não ser considerado pardo
O aluno aprovado por cotas na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, para o curso de biotecnologia, Richard Aires de Sousa, de 19 anos, declarou que foi barrado pela Comissão de Heteroidentificação. O jovem tem a mãe negra e o pai branco, mas não foi reconhecido pelo grupo como pardo. Segundo o documento da banca, Richard tem “pele clara e cabelo liso”. Em um vídeo, a família falou sobre como foi afetada pela decisão (veja acima).
O DE pediu um posicionamento da UFG sobre o indeferimento do pedido, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o adolescente, ele foi aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no dia 13 de fevereiro. No dia 26 de fevereiro, Richard foi examinado pela Comissão de Heteroidentificação e recebeu o resultado ainda no local de que seu pedido de cota como pardo havia sido negado. “Houve a alegação de que eu tenho cabelo liso e pele clara”, afirmou o estudante.
A mãe do aluno, Lilia Rosa, esteve presente no dia da avaliação. Ela contou que quando foram chamados pela banca para pegar o documento da negativa, ela questionou a decisão. “A única reação que eu tive na hora foi de perguntar para ela, se ele não era pardo, qual era a cor dele. E, na hora, ela não teve nem resposta para mim”, afirmou.
Insatisfeito com o resultado, Richard abriu um recurso para questionar a decisão, no qual destacou suas características pardas que atendem aos critérios impostos pela banca, como nariz largo e lábios grossos. Mesmo assim, o pedido foi novamente indeferido no dia 27 de fevereiro. “Desde que me entendo por gente, sou uma pessoa parda, filho de uma mãe preta com avós pretos e um pai branco com avós brancos e creio que devido a essa mistura, possuo como pode ser observado, uma pele não branca porém com cabelo liso, nariz largo e lábios grossos, características vindas obviamente da miscigenação”, destacou Richard no recurso.
LEIA TAMBÉM:
Jovem de comunidade quilombola consegue bolsa de estudos de mais de R$ 2 milhões em universidade dos EUA
Inteligência Artificial desbanca medicina e passa a ser o curso mais concorrido da UFG
Primeira mulher a se formar em Inteligência Artificial em universidade federal relata propostas de R$ 25 mil
No mesmo documento, a banca afirma que são aferidas características como cor da pele, associada às demais marcas ou características da população negra. Entre elas estão formato do nariz, textura de cabelos e lábios. O texto destaca que Richard não apresenta “visivelmente características típicas da população afrodescendente”. “Eu não sou claro o suficiente para ser considerado uma pessoa branca e nem negro o suficiente para ser considerado uma pessoa negra, então fico nesse meio termo. Então acredito que foi uma decisão errônea”, finalizou Richard.
Segundo o pai do jovem, Márcio Aires, a família vai entrar na Justiça contra a decisão.
COMISSÃO
De acordo com o presidente da Comissão de Heteroidentificação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Cruz, a banca analisa os candidatos segundo seus próprios padrões. “Quando um concurso ou processo seletivo utiliza os nossos critérios de cor ou raça, há uma banca de heteroidentificação do certame que analisa os candidatos segundo seus próprios padrões para definir o que se encaixa em cada categoria”, declarou.