Em seguida debates em mais de 3 milénio conferências com representantes de favelas, de comunidades e de periferias em municípios e estados do Brasil, além de outros 48 países, a Médio Única das Favelas (Cufa) preparou um documento com as demandas desses territórios que será apresentado às lideranças globais do G20 – grupo que reúne as principais economias do mundo, além da União Europeia e União Africana.
O trabalho é fruto da geração do G20 Favelas pela Cufa, com a participação da Organização das Nações Unidas para a Ensino, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da London School Economics.
O fundador da Cufa, Celso Athayde, conta que durante os encontros algumas diferenças de demandas ficaram evidentes: enquanto em algumas comunidades constatou-se a urgência de implantar, por exemplo, linhas de trabalho em presídios – por pretexto do número de parentes e filhos dependentes de apenados nas comunidades –, em outras o maior problema era a falta de chuva potável.
Em entrevista à Escritório Brasil, Celso Athayde – que também é presidente do Recomendação da Cufa e CEO do Favela Holding (conjunto de empresas que sustenta a Cufa) – explica que apesar da flutuação, foi verosímil observar questões comuns que atingem essas populações.
“A gente fez as conferências [3.007, no total] das favelas nas cidades, depois nos estados, a vernáculo e a internacional, para trazer aquilo que é mais presente na vida de todos e não unicamente o que é mais importante pontualmente. Pelo que eu vi, acho que questões relacionadas à segurança e à saúde são as demandas globais mais expressivas; além da desigualdade, porque em um espaço físico desigual, a desigualdade acaba se desdobrando em miséria e desemprego, e faz com que a agenda global precise olhar para isso”.
“Dentro desse processo a gente teve um encontro com as semelhanças. Têm algumas coisas que as favelas passam no Brasil e as favelas do mundo também têm a mesma conexão. Por exemplo, a questão da violência e da discriminação e a questão do combate à miséria foram duas pautas que a gente entendeu que são muito parecidas dentro dessa relação do Brasil e fora do Brasil também”, completou a coordenadora-geral do G20 Favelas, Leticia Gabriella da Cruz Silva, à reportagem.
O coordenador-geral do G20 Favelas, Gabriel Oliveira, informou que mais de 50% das pessoas que participaram das conferências afirmaram que é fundamental discutir o combate à pobreza, à miséria e às desigualdades sociais. Para ele, oriente foi o tema que gerou maior interesse das pessoas e mais contribuições e possibilidades de soluções.
“Ainda é um tema mediano e isso é emblemático. A gente está no ano de 2024, no século 21 e enquanto se debate se a lucidez sintético vai ou não beneficiar o mundo, a gente ainda tem pessoas vivendo aquém da risco da pobreza e extrema instabilidade fomentar, pessoas que ainda não conseguem ter o mínimo obrigatório de saneamento público, aproximação à chuva potável, à moradia com equipamento de qualidade, com alvenaria correta para situações de extremo insensível, extremo calor, todas essas alterações climáticas que a gente tem visto cada vez mais frequentes no mundo”, disse Oliveira à Escritório Brasil, lembrando que erradicar a miséria e a pobreza no mundo é o primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU e até agora tem apenas16% das metas cumpridas.
G20 Favelas
O G20 Favelas é uma das instâncias que compõem o G20 Social, iniciativa proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ouvir a sociedade social na definição de políticas públicas entre integrantes do grupo.
O proclamação do presidente brasileiros ocorreu em setembro de 2023, na 18ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20, em Novidade Delhi, na Índia, quando o Brasil assumiu a presidência do conjunto. O Brasil faz segmento do G20 desde a sua geração em 1999.
“A gente atuou dentro de 49 países discutindo sobre temas calcados na segmento de sustentabilidade, direitos humanos, combate às desigualdades e à miséria e também apontando os desafios globais das favelas”, disse a coordenadora, completando que a Cufa atua há mais de 20 anos nesses territórios, defendendo o empoderamento e a potência dessas comunidades no meio desse debate global.
“A CUFA tem esse trabalho de mais de 20 anos nas cidades brasileiras e temos capilaridade em todos os estados do Brasil. A gente fez uma formação com as lideranças estaduais para que elas pudessem realizar as conferências. O pontapé inicial foi no Multíplice da Penha, no Rio de Janeiro, quando a gente lançou o processo”, conta Letícia Gabriella.
“O nosso repto foi fazer um movimento contrário ao do G20: levar as conferências até as favelas, porque infelizmente há falta de aproximação e de informação. As pessoas que moram em territórios de favela e de periferia dificilmente sabem o que significa uma conferência e a prestígio de uma conferência. A gente foi a esses territórios explicar a prestígio do G20 e fazer os debates.”
Avançados
Para Gabriel Oliveira, porquê as realidades das periferias dos países que compõe o G20 são muito distintas, qualquer confrontação sobre o atendimento das demandas dessas comunidades seria um equívoco
“A gente foi para a França e Suécia, países considerados desenvolvidos e eles também têm as mesmas questões de moradias e saneamento obrigatório. Lógico que a proporção não chega a ser igual, mas ainda assim são verificadas situações, principalmente, depois de migrações principalmente de regiões da Ásia e do Setentrião da África para o setentrião da Europa”, explica o coordenador-geral do G20 Favelas.
“É difícil parametrizar quem está mais avançado nessas demandas. Acho que a agenda demonstrou que todos os continentes precisam de qualquer tipo de atenção em tudo que foi discutido e discutido nas nossas conferências. Aí o nosso ponto mediano não é tanto quem está adiante, mas porquê a gente democratiza as formas de combate e a informação e estratégia de solução desses problemas.”
Para Gabriel Oliveira, mesmo nos países ditos “de primeiro mundo”, o desequilíbrio social exige o desenvolvimento de projetos sociais para atender essas comunidades que vivem em territórios periféricos, principalmente nos últimos 20 anos, quando houve um processo de transmigração por conta da miséria, da violência, da perseguição política, de crises globais e guerras: “esses problemas começam a intercorrer com maior intensidade”.
Perpetuidade
O coordenador-geral considera um progresso a proposta brasileira de geração do G20 Social, mas ressalta, a prestígio de que esse projeto tenha perpetuidade.
“Não adianta o Brasil fazer o G20 Social e perfurar a participação da sociedade social e na próxima cúpula na África do Sul não viver mais a possibilidade da sociedade social se inserir”, disse Gabriel Oliveira, acrescentando que essa participação social enriquece o debate, com novos pontos de vista e de atenção.
Communiqué
O documento final elaborado pela Cufa, pela Unesco e London School Economics, recebeu o nome de Communiqué e será apresentado nesta quinta-feira (14), às 10h, no Boulevard Olímpico, região portuária do Rio. Nos próximos dias 18 e 19 será entregue aos líderes do G20 pelo presidente Lula.