O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, criticou a presença de policiais militares no enterro de um menino de 4 anos, morto durante operação da Polícia Militar na noite de terça-feira (5), no Morro São Bento, em Santos, litoral paulista. O funeral ocorreu na manhã desta quinta-feira (7).
Ryan da Silva Andrade Santos estava brincando com outras crianças na passeio em frente à mansão de uma prima, quando foi atingido por um disparo. Segundo o próprio porta-voz da Polícia Militar (PM) “provavelmente [o disparo] partiu da arma de um policial”. O pai do menino, Leonel Andrade Santos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, realizada no início deste ano.
“Cá no estado de São Paulo virou política governamental colocar polícia em velório de gente que morre pelas mãos da polícia, intimidar as pessoas e fazer tudo que vocês acompanharam. Vocês acompanharam o cortejo, viram o comportamento da polícia, tinha viatura do próprio batalhão cá no cemitério”, disse o ouvidor, presente no enterro do menino, à prensa no sítio.
“É vergonhoso, é o montão da falta de saudação aos direitos fundamentais das pessoas. Nesse estado cá não vai poder mais ter ato sepulcral? Ninguém tem mais recta de velar e se despedir dos seus entes queridos? Quem não permanecer infeliz com a morte de uma petiz de 4 anos nessas condições que foi cá, me desculpa, não é gente”, acrescentou.
Os policiais atingiram ainda dois menores de idade na mesma operação de terça-feira. Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17 anos, morreu no sítio e o outro jovem, de 15 anos, foi socorrido, passou por cirurgia e não corre risco de morte.
No momento em que o ouvidor falava à prensa, policiais da Força Tática que estavam na porta do cemitério iniciaram uma abordagem de um rapaz. O ouvidor, escoltado de jornalistas e fotógrafos, se aproximou dos policiais e começou a denunciar que os agentes não estavam usando as câmeras corporais.
“Vocês matam uma pessoa de 4 anos de idade. Aí fica circulando na porta do cemitério, incidindo no meio do cortejo. Não queria deixar o cortejo transpor, para na porta do cemitério”, disse Silva aos policiais que faziam a abordagem. Estavam presentes também as deputadas estaduais Paula Nunes e Ediane Maria; a vereadora de Santos Débora Camilo; além de Débora Maria dos Santos, coordenadora do Movimento Mães de Maio.
Ao telefone com o comandante universal da Polícia Militar, coronel Cassio Araújo de Freitas, o ouvidor relatou, durante a ocorrência, que os policiais faziam uma abordagem abusiva e que não utilizavam as câmeras corporais naquele momento. “Abordou o rapaz, deu um tapa na cabeça do rapaz, agrediu o rapaz, agora está dizendo que vai apreender a moto do rapaz.”
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que irá examinar as denúncias e que o policiamento preventivo e ostensivo foi reforçado na região desde a última terça-feira.
Onze tiros
Outro caso que levanta questionamento sobre a ação da Polícia Militar paulista aconteceu na cidade de São Paulo. Um varão preto foi morto por um PM, que estava fora de serviço, em seguida tentar furtar dois produtos de limpeza em um minimercado, no último domingo (3), na zona sul da capital paulista.
Imagens de câmeras de monitoramento mostram o rapaz sendo atingido pelas costas pelo policial militar, com tiros de arma de incêndio. Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, foram pedidos exames periciais, cujos laudos estão em curso, e a polícia vai investigar todas as circunstâncias dos fatos.
O rapaz é sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, que integrava o grupo Partido Mediano. Ele denunciou o caso em postagem em rede social.
*Colaboraram Márcio Garoni e Vanessa Casalino, da TV Brasil