PMs acusados de matar adolescente que sumiu há seis anos após ir para casa de
amigo jogar videogame passam por audiência de instrução
Nessa etapa, o juiz começa ouvir testemunhas e analisar provas do caso para
decidir se os réus vão a júri popular. Policiais militares também são réus pelo
homicídio de dois amigos e um primo da vítima
Julgamento dos policiais acusados de matar e esconder corpo de adolescente
começa hoje [imagem]
Os quatro policiais militares acusados de matar um adolescente, de 14 anos, que
desapareceu há seis anos após ir para a casa de um amigo jogar videogame,
passaram por audiência de instrução na Justiça, em Goiânia. Nessa etapa, o juiz começa
ouvir testemunhas da acusação e da defesa, além de analisar provas no caso para
decidir, posteriormente, se os réus vão a júri popular.
Os réus por matar João Vitor Mateus de Oliveira,
além de dois amigos e um primo da vítima, são os policiais Fabrício Francisco da
Costa, Thiago Antonio de Almeida, Eder de Sousa Bernardes e Cledson Valadares
Silva Barbosa. À defesa dos acusados
disse que não irá se manifestar por enquanto. Em nota, a Polícia Militar
informou que “todos os procedimentos administrativos foram prontamente adotados,
em conformidade com a legislação vigente” (veja a nota completa no final da
matéria).
A audiência de instrução iniciou por volta das 14h e foi suspensa às 20h, desta
segunda-feira (7), na 2ª Vara de Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do
Júri, em Goiânia. Na ocasião, os assistentes de acusação, juntamente com os
promotores, apresentaram suas testemunhas.
Conforme a ata da sessão, 12 testemunhas que representam as vítimas estiveram
presentes nessa audiência e foram ouvidas pelo magistrado. Outras três não
compareceram, e o juiz Lourival Machado da Costa determinou o prazo de 10 dias
para manifestação da acusação e do Ministério Público de Goiás (MPGO).
Ao o advogado da família do adolescente,
Allan Hahnemann, explicou que após todas as testemunhas das vítimas serem
ouvidas, será a vez das testemunhas dos réus, e posteriormente o interrogatório.
Segundo o advogado Diego Mendes, assistente de acusação, a reprodução simulada
dos fatos está prevista para ocorrer dia 9 de setembro.
> “Depois das provas produzidas, os elementos dos autos vão ser analisados pelo
> juiz do caso, que emitirá uma decisão que levará os policiais a júri ou não”,
> acrescentou.
Para o advogado, há provas suficientes de que João Victor foi morto e teve o
corpo ocultado pelos policiais.
> “A perspectiva das famílias é de que há sim provas robustas de que praticaram
> o homicídio contra os quatro jovens. João Vitor estava na casa [da mãe de um
> amigo dele] e não há explicação alternativa para o seu desaparecimento que não
> o seu homicídio por parte dos policiais”, afirmou Diego Mendes.
A denúncia do MPGO foi aceita pela Justiça no dia 19 de dezembro de 2024. A
determinação do afastamento dos policiais das ruas foi acatada para evitar novas
infrações por parte dos militares, segundo do MPGO. Segundo o documento, ao qual
o o teve acesso, os policiais agiram de forma
livre e consciente.
> “Agindo de forma livre e consciente, em comunhão de ações e desígnios,
> mediante recurso que dificultou a defesa da vítima e para assegurar a
> impunidade de outros crimes, os denunciados mataram João Vitor Mateus de
> Oliveira, por meio de disparos de arma de fogo”, afirma o documento.
A mãe do garoto disse ao que a vida perdeu o
sentido e que só continua viva porque “infelizmente, tem que viver”. Ela e todo
o restante da família se dizem dilacerados por aquela noite e, desde então,
grande parte desenvolveu problemas psicológicos.
> “Minha menina teve que fazer tratamento por muito tempo, porque ficou com uma
> depressão muito forte. Eu estou me recuperando, mas tem dias me desestabilizo
> toda. Não posso ouvir barulho de sirene de polícia, porque passo mal. Minha
> mãe entrou em depressão, até hoje está doente. Minha irmã, mãe do meu sobrinho
> que morreu, toma remédio controlado. Então, destruiu a família”, contou.
Ao ser perguntada sobre a esperança de Justiça sobre o caso envolvendo o filho,
a mãe de João disse que espera por Justiça divina. “Esperança de achar o corpo
dele eu tenho. Agora, de ter justiça ou achar ele vivo, não. Eu sei que isso aí
não vai ter, infelizmente. A única justiça que eu sei que vou ter é a de Deus”,
afirmou.
Na ocasião, dois amigos e um primo de João também foram mortos pelos policiais,
segundo a denúncia. A polícia negou que o adolescente estava no local.
A ação policial que, segundo o MP, matou o adolescente desaparecido, Marley
Ferreira Nunes, Matheus Henrique de Barros Melo e Divino Gustavo de Oliveira
ocorreu no dia 23 de abril de 2018. O corpo de João nunca foi encontrado.
Trechos do inquérito policial, ao qual o também teve acesso, revelam que, na noite de 23
de abril de 2018, a equipe do Batalhão de Choque entrou na casa de Matheus
Henrique, de 19 anos, após receber uma denúncia anônima de que uma caminhonete
roubada estava escondida lá. Os policiais olharam por cima do muro, viram o
veículo e decidiram entrar no imóvel.
Na versão da PM, os policiais foram recebidos a tiros por Matheus; Marley
Ferreira, de 17 anos; e Gustavo, de 19 anos. Por isso, revidaram atirando de
volta. Ao todo, os militares deram pelo menos 10 tiros contra os jovens, que
morreram na casa antes mesmo da chegada do Corpo de Bombeiros. Segundo os três
policiais, João Vitor nunca esteve lá.
Mas é justamente ao falar sobre a caminhonete e a entrada da equipe na casa que
os depoimentos se distanciam sobre o que aconteceu. A avó de Matheus diz que
saiu de casa horas antes da ação, deixando o neto acompanhado dos amigos Marley,
Gustavo e João Vitor. Ela afirma que não havia nenhuma caminhonete na casa até
então.
Em outros depoimentos, testemunhas relatam que um quarto amigo de Matheus teria
pedido para deixar a caminhonete roubada na casa dele para “esfriar” – escondida
para não ser rastreada. Dizem que esse amigo chegou a voltar para buscar o
veículo, ficou na casa por um tempo, mas saiu para comprar um refrigerante
minutos antes da chegada da equipe da PM.
Familiares e amigos dos garotos mortos na ação negam que eles roubaram o carro,
que usassem armas ou tivessem coragem de reagir contra qualquer ordem da
polícia.
A Polícia Militar de Goiás (PMGO) informa que, à época dos fatos, todos os
procedimentos administrativos foram prontamente adotados, em conformidade com a
legislação vigente.
O caso segue em tramitação no Poder Judiciário, instância responsável pela
condução das demais fases e pelas devidas deliberações processuais.
Para informações sobre o posicionamento ou a defesa dos envolvidos no âmbito
judicial, recomenda-se o contato direto com seus representantes legais.