Enfermeira diz à polícia que tentou convencer paciente a soltar pedaço de vidro que ele segurava quando foi pega pelo pescoço e feita refém
O paciente foi morto com um tiro por um policial militar. Luiz Cláudio Dias estava internado há três dias em UTI para tratamento renal.
Paciente em surto é morto após fazer enfermeira de refém em UTI
Paciente em surto é morto após fazer enfermeira de refém em UTI
A enfermeira que foi feita refém por um paciente em surto que foi morto por policial militar falou com a polícia pela primeira vez sobre o ocorrido. Em depoimento, ela disse que tentava convencer o paciente a soltar um pedaço de vidro que ele segurava quando foi pega pelo pescoço, explicou o delegado Fabiano Jacomeli em entrevista à TV Anhanguera.
“Ela e uma outra enfermeira tentaram dialogar com ele para tirar esse vidro [da mão dele]. Inclusive, ele estava com dois pedaços de vidro. Uma enfermeira consegue tirar um pedaço, e aí ele consegue pegar ela. Ele pega ela como refém”, disse ele.
O paciente, Luiz Cláudio Dias, de 59 anos, estava internado há três dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal de Morrinhos, no sul do estado, onde fazia tratamento renal. Após um suposto surto – que ainda não teve causa comprovada -, o homem quebrou uma janela do banheiro e usou cacos de vidro para ameaçar as enfermeiras, informou o delegado.
“Ele pressionou o vidro no pescoço dela, só que no momento que ela conseguiu se desvencilhar e cair, ela já não se recorda de mais nada. Ela falou que desmaiou e não conseguiu prestar maiores esclarecimentos”, disse o delegado à TV Anhanguera sobre o depoimento da enfermeira.
O homem foi baleado por um policial militar e chegou a receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Segundo o comandante do 36º Batalhão da Polícia Militar de Morrinhos, tenente-coronel Werik Ramos, o policial que efetuou o disparo tinha intenção de acertá-lo nas pernas, para imobilizar, mas o paciente se moveu durante a ação e o tiro acabou perfurando o abdômen.
Em nota, a Polícia Militar (PM) afirmou que protocolos de gerenciamento de crises foram aplicados para tentar liberar a enfermeira, mas que, mesmo diante das tentativas, foi necessária a realização de um disparo contra o paciente para resguardar a vida da refém. Afirmou ainda que um procedimento administrativo foi instaurado para apurar os fatos.
Em nota divulgada após o fato, a Prefeitura de Morrinhos afirmou que lamenta profundamente o ocorrido e que está à disposição para esclarecer os fatos.
A família de Luiz Cláudio Dias afirmou em carta pública que ele foi executado de forma cruel e questiona a conduta dos militares e da equipe de saúde. A carta pontua que ele estava fisicamente enfraquecido, mas foi rendido e imobilizado.
“Mesmo nessas condições, foi pisoteado e executado à queima-roupa por dois policiais, de forma desproporcional, cruel e absolutamente inadmissível. A conduta esperada da equipe de saúde e da força policial era outra: técnica, responsável, humana e proporcional à situação, o que poderia ter evitado essa tragédia”, diz a carta.
No domingo (19), o funeral de Luiz Cláudio ocorreu pela manhã e ele foi sepultado às 19h. O filho do paciente, Luiz Henrique Dias, expressou seu luto nas redes sociais, lamentando a situação e afirmando que deseja justiça.
O surto de Luiz Cláudio foi descrito como psicótico pela PM, que afirmou que ele ameaçou a enfermeira com um pedaço de vidro enquanto estava internado na UTI. O prefeito de Morrinhos relatou que casos de surtos durante internações na UTI não são incomuns, mas destacou a atipicidade do ocorrido.
Em meio à tragédia, a família de Luiz Cláudio busca por justiça e responsabilização dos envolvidos para evitar novas perdas. A imprensa foi solicitada a tratar o caso com responsabilidade e sensibilidade, considerando a dor da família e as circunstâncias do ocorrido.
A Polícia Militar informou que está conduzindo investigações detalhadas sobre o caso e que foram iniciados procedimentos legais para apurar as circunstâncias da ocorrência, assegurando transparência e responsabilidade em todo o processo. A família e a instituição pública esperam que o caso sirva de alerta para melhorias no sistema de atendimento a pacientes vulneráveis em situações de crise.