Intercooperação: cooperativas de leite se unem para ganhar mercado e produtividade
Contrato entre Cooperbelgo e Coopersil pretende aproveitar oportunidades e garantir vantagens para os dois negócios
A Cooperativa Mista Agropecuária de Bela Vista de Goiás (CooperBelgo) e a Cooperativa Agropecuária Mista dos Produtores Rurais de Silvânia (Coopersil) assinaram um contrato que pode gerar uma receita bruta de R$ 321 mil para a cooperativa de Bela Vista e de R$ 564 mil para a cooperativa de Silvânia. Na prática, a Coopersil irá entregar o leite in natura para a CooperBelgo industrializar, pagando um valor menor do que o praticado no mercado pela industrialização. Em contrapartida, a CooperBelgo irá compartilhar sua planta industrial com a Coopersil.
As duas cooperativas goianas são do mesmo ramo e participam do Programa de Aquisição de Alimentos do Estado de Goiás. O PAA Leite Goiás é uma iniciativa pública que busca fortalecer o setor produtivo. Uma das exigências para o produtor da agricultura familiar participar do programa é que a comercialização deve ser realizada diretamente para o consumidor, por isso precisa passar necessariamente pelo processo de pasteurização.
Para atender às regras, a CooperBelgo irá industrializar o leite da Coopersil no valor de R$ 1,90, entregando aproximadamente 169 mil litros de leite para o programa estadual. Por meio do PAA, o leite adquirido dos produtores goianos é beneficiado e distribuído gratuitamente às unidades recebedoras e consumidores em situação de insegurança alimentar e nutricional.
Com essa necessidade, surgiu o projeto de intercooperação entre as duas cooperativas da região Central do Estado, com total apoio das equipes do SESCOOP/GO e OCB/GO, mostrando que as cooperativas podem trabalhar juntas para gerar receitas e sobras. “Essa participação no PAA Leite Estadual é possível para todas as cooperativas com CAF ativa, porém as cooperativas registradas no Sistema OCB/GO têm mais sucesso por receberem acompanhamento e suporte técnico para acessarem o programa”, explica o analista de Desenvolvimento de Cooperativas Welison Portugal.
Após o surgimento e a atuação de cooperativas maiores que reúnem negócios do mesmo ramo agro, como a Centroleite e a Central Rede, algumas já se uniram com o objetivo de promover ações de intercooperação. “Assim, pequenas e grandes cooperativas começaram a entender a necessidade da cooperação, mas ainda não tinham conhecimento para a execução. O grande segredo dessa nossa intercooperação foi a atuação do Sistema OCB/GO, que promoveu a primeira conversa”, assegurou Caroline Paixão do Amaral, diretora Administrativa Operacional da CooperBelgo.
“Estamos nos desafiando a viver essa ação. Eu falo desafio porque a gente aprende muito na prática. Vamos viabilizar a usina, conseguir uma operatividade. É uma oportunidade para crescermos e nos prepararmos para mais produções. E o mais importante de tudo é que entendemos o quanto é importante as cooperativas se unirem, nos tornando cada vez mais fortes e organizadas. Precisamos disso para enfrentar os desafios do mercado e garantir retorno para nossos cooperados”, avalia a diretora.
Presidente da Coopersil, Leandro Willian conta que a cooperativa ainda não tem sua própria indústria de leite. Por isso, nasceu a ideia de procurar uma cooperativa mais próxima na mesma região, que no caso foi a CooperBelgo, para viabilizar a pasteurização. “Vamos em breve entregar nosso leite na indústria deles para ser devolvido industrializado. Com a intercooperação, ficaremos mais fortes e temos expectativa que essa parceria de sucesso continue”, revela.
Caroline Paixão reforça que para a CooperBelgo será muito importante esse processo de cooperação porque a usina de pasteurização foi criada recentemente, em 2019, mas só começou a produzir em 2020. “A cooperativa já tem 52 anos, mas a fábrica de usina de beneficiamento tem apenas quatro anos. Ainda temos um desafio muito grande de crescimento da produção para a viabilidade econômica do investimento na usina”, esclarece.
Após os cooperados captarem o leite normalmente, a Coopersil levará o produto para o processo de pasteurização na CooperBelgo. Só então a Coopersil receberá o leite de volta, distribuindo em seguida para as ONGs e instituições cadastradas pelo governo. “Se os nossos objetivos são comuns, se as nossas buscas são comuns, não tem outro caminho senão essa união entre nós. O princípio da intercooperação será uma ferramenta importantíssima para esse propósito”, ensina Caroline.
Este ano, o SESCOOP/GO abriu um edital de seleção que vai oferecer até 30 consultorias técnicas especializadas em melhoramento genético e qualidade do leite. O apoio será totalmente subsidiado, em parceria com o Sebrae/GO, por meio do Convênio de Cooperação Técnica e Financeira. O projeto é voltado para produtores rurais que integram cooperativas registradas e regulares no Sistema OCB/GO.
Quem participar deve estar em situação regular junto ao Sistema OCB/GO, possuir uma propriedade rural em Goiás e comprovar formalmente sua atividade leiteira por meio de registros como CNPJ, CAF/DAP, CAEPF, entre outros. A seleção dos participantes dentro das cooperativas será criteriosa, considerando fatores como a necessidade de melhorias na produção, no manejo e na qualidade do leite. Além disso, é necessário que o produtor tenha um faturamento anual de até R$ 4,8 milhões. As inscrições continuam abertas até 20 de janeiro de 2025.
Com essa ação, a Casa do Cooperativismo Goiano busca elevar a competitividade e a sustentabilidade do setor leiteiro em Goiás, beneficiando pequenos e médios produtores. Para o superintendente do Sistema OCB/GO, Jubrair Gomes Caiado, “a ideia é que o apoio técnico posso promover práticas mais eficientes e sustentáveis nas cooperativas, melhorando a qualidade genética do rebanho e do leite”, explica.